Pisar em pintinhos, como o Kiss, morder um morcego, como Ozzy, cantar vestido de mulher, simulando sexo com o microfone, como Lux Interior, do The Cramps, Alice Cooper, Marilyn Manson, todos esses malucos juntos são o jardim da infância de GG Allin, o punk mais punk da história. Para quem tem estômago forte, selecionamos dois vídeos no final do artigo. Já aviso: se você acha roda punk uma violência, um horror. Pare aqui.
Mais apropriado impossível, chamava-se Jesus Christ Allin. Carinhosamente chamado por Jeje por seu irmãozinho, acabou virando GG Allin. Sua performance nos palcos imundos do underground incluía defecar, atirar a merda na plateia, esfregá-la no próprio rosto, comê-la. Também era usual arrebentar o rosto no microfone, enfiá-lo no ânus, esfregar-se com cacos de vidro, cortar a barriga, tudo isso pelado e de coturno. Dava botinadas no público, não se importava nada em apanhar, arrastava pelos cabelos qualquer um que pegasse desprevenido, depois se esfregava nele, não havia limites para o cara.
Acabou recebendo o rótulo de maluco, psicopata, desvendaram sua história de vida, descobrindo que seu pai era um fanático religioso, alcoólatra, ameaçava matar a família toda (chegou a cavar os buracos das covas de cada um no porão da casa onde moravam), mas GG nunca admitiu que houvesse relação entre seu passado bizarro e as bizarrices de suas apresentações. Sua mãe mudou seu nome quando ainda era pequeno, passou a se chamar Kevin Michael Allin, talvez antecipando os problemas que teria com o filho, que já era endiabrado. Tantas confusões que causou acabou incluído em uma turma de excepcionais por um ano.
Descobriu no punk, tanto na música quanto na proposta ideológica, a forma mais perfeita de identificação com seu mundo interior caótico. Mais que um músico, GG Allin foi um terrorista, anarquizando todas as normas de conduta por onde esteve, sendo frequentemente preso ao final de seus shows, seja por atentado violento ao pudor, por desacato à autoridade, porte ilegal de arma, provocar a desordem. Na última década de sua carreira era raro que um show seu terminasse sem policiais desligando tudo e levando o astro, já todo ensanguentado e cheio de merda pelo corpo, ou desmaiado depois de tanto sangrar.
Montou um fanzine em que se autoproclamava o profeta do rock, prometendo suicidar-se no palco. No show que programou sua morte em público, não pode comparecer, pois estava preso. Sempre com seu irmão Merle, tocou e cantou ao lado dos ex-MC5s no The Jabbers, compôs muitas músicas sempre cheias de palavrões e escatologia (I wanna fuck myself, Kill thy father, Rape thy Mother), depois formou a Texas Nazis, ironizando os texanos que, tradicionalmente homofóbicos, o odiavam. Seu vício em heroína e álcool acelerou o fim da banda. O auge de sua carreira foi com os Murder Junkies (viciados em assassinato), cujos membros acompanhava sua loucura nos palcos cada vez mais raros. Dee Dee Ramone não aguentou dois dias na banda. Os vídeos disponíveis no youtube são com essa formação.
No fim de junho de 93, com o “Criminal Quartet”, sua última banda, teve seu show interrompido pelo dono do bar e saiu pelas ruas da cidade completamente bêbado e sujo de cocô. Acabou numa festa na casa de um amigo, onde aplicou uma dose cavalar de heroína e morreu esquecido num canto da casa. Horas depois descobriram que havia morrido, chamaram os médicos enquanto continuavam a festa, batendo cinzas de cigarro sobre seu cadáver. Morto, foi velado ali mesmo, de cueca, imundo, com seus discos ao redor.
Imagens do corpo:
Túmulo de GG Allin:
Afirmava categoricamente que “estava sempre no controle” do que fazia, que nada era inconsciente. Sua postura é o ápice do ideário destrutivo propagado pelo movimento punk, cuja premissa era a destruição completa da civilização como está, ou, pelo menos, a negação completa de todos os valores por ela propostos, desde o consumo até a religião e a ética cristã. GG Allin viveu em plenitude essa proposta. Visite o site oficial do maluco. Algumas de suas frases (as publicáveis):
- “Eu não tenho influências, nenhum herói, sou apenas eu.”
- “Todo mundo é um inimigo. Eu odeio todo mundo. Eu não sou parte de cena nenhuma. Eu faço do meu jeito. Minha mente é uma arma, meu corpo são as balas, a audiência é o alvo.”
- ”Se você acha que eu estou nessa por dinheiro você está totalmente enganado. Eu faço isso porque isso vive dentro de mim.”
- ”Eu tenho visto pessoas na minha platéia saindo com ossos quebrados, braços quebrados. Eu as tenho visto cagadas,. Eu tenho visto estupros antes de mim.”
- “Se eu não fosse músico poderia ser um serial killer ou um assassino de massa.”
- “Eu estou tentando trazer de volta o perigo ao rock ‘n’ roll e não há limites e leis, e eu botarei abaixo toda barreira posta à minha frente até o dia em que eu morrer.”
Hilário: em 2003, estudantes da Federal de Florianópolis organizaram um evento na cidade para homenagear os 10 anos da morte de GG Allin. Para divulgar o encontro, foram a um programa televisivo “anunciar” a homenagem ao ídolo que pregava a paz no rock e o fim das drogas. Veja o vídeo (repare nos estudantes rindo por detrás do apresentador):
Confira algumas de suas brigas:
Aqui, um dos vídeos mais polêmicos do GG Allin, fazendo a performance ao vivo de Bite It You Scum, onde ele caga defeca no palco, e come suas fezes:
E aqui, um documentário legendado:
Fonte: www.issoebizarro.com